Enche a boca de tremoço, desabotoa o primeiro – ou último se
se vir de cabeça nos pés – botão da camisa e apronta-se para mais um fadinho. Fadinho
este, repetido há mais de quarenta anos, todos os dias, no mesmo balcão. Dessalga
os lábios, com o bagaço que quase foge da embocadura do copo baixo e limpa o
suor da testa com o lencinho que a sua falecida mãe lhe bordara no tempo em que
só os Senhores tinham carros.
Sendo homem de rotinas, poder-se-ia supor que ele pensasse em coisas de quem se
consome em práticas, do tipo “Se tivesse nascido noutro sitio…” ou “Se tivesse
mais dinheiro…” ou ainda “Se aquele filho da puta…” e outros mais ses que nos ruminam o pensar.
Mas, como não era filho de Alentejano, como o dinheiro era só trocos para uns
cigarros e bagaço, e como todos os filhos da puta já lhe aqueciam a terra há
uns bons anos, optava por não pensar.
Inês Vegetal
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